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"O boxe mudou a minha vida". O testemunho de Octávio Pudivitr em entrevista exclusiva à DAZN

DAZN Portugal
"O boxe mudou a minha vida". O testemunho de Octávio Pudivitr em entrevista exclusiva à DAZNDAZN
O pugilista luso-moçambicano tem um dos maiores combates da sua vida a 18 de maio, na Arábia Saudita

Octávio Pudivitr, luso-moçambicano vai defrontar o ucraniano Daniel Lapin para o título mundial WBA Continental.

A luta vai acontecer num dos maiores palcos do mundo, em Riade, na Arábia Saudita, na mesma noite em que Fury e Usyk se defrontam também.

Em entrevista exclusiva à DAZN conduzida pelo jornalista Pedro Afonso, o pugilista português relembrou a forma como entrou no boxe, apenas aos 31 anos, e os obstáculos que teve de ultrapassar para chegar até ao top 100 mundial.

 

Octávio PudivitrInstagram

Conta-nos um pouco do teu percurso…

Nasci em Moçambique. Estive lá a parte da minha infância em Moçambique. Até os meus pais conseguiram ter melhores condições para virmos para Portugal estudar. Estou cá há quase 26 anos, em Portugal. Estou há mais tempo em Portugal do que estive em Moçambique. Então fico meio dividido aqui entre Portugal e Moçambique. Às vezes esqueço-me que sou moçambicano, às vezes esqueço-me que sou português. Apaixonei pelas modalidades de combate cá. Vim cá para estudar, acabei por me licenciar e por me formar. Só que entretanto a paixão pelos desportos de combate começou. E, por acaso,  não foi pelo boxe, foi pelo jiu-jitsu. Depois o boxe foi surgindo por acaso. E hoje estamos aqui no maior palco do mundo.

Como é que surgiu o boxe na tua vida?

O boxe na minha vida surgiu não por uma boa razão. Eu estive a passar por uma fase um pouco complicada da minha vida. Como já estava no jiu-jitsu há muito tempo, já tinha competido muito, ganhei alguns títulos. Então decidi, para sair daquela rotina, daquela monotonia, para decidir espairecer um bocado. Então envolvi-me no boxe. Abri um espaço meu no Porto. O meu atual treinador foi para lá dar aulas de boxe. Então foi assim como foi começando... Fui a um treino, fui a dois, fui a três, fui a quatro, fui a cinco. E olha, hoje estamos aqui. Foi surgindo a paixão a cada dia que passava maior. E muitas vezes eu digo que o boxe ajudou-me a mudar muita coisa na minha vida. Foi muito importante numa fase que eu precisei realmente de um escape. O boxe foi realmente esse escape. 

És pai de oito filhos... 

Exatamente. 

Como é com esses oito filhos, algum deles quer ir para o boxe também? 

Não, nem eu quero. Sinceramente, nem eu quero. Porquê? Porque eu vibro muito mais de fora do que dentro. Então eu quando vejo meus filhos, quando penso em vê-los a competir, seja boxe, seja jiu-jitsu, o meu coração bate a mil, então acho que não seria capaz. Mas se algum deles decidir enveredar por esse caminho, eu vou ter que apoiar, claro. 

Voltando um bocadinho a Moçambique, nunca surgiu o desporto de combate em Moçambique. Ou consegues encontrar alguma coisa hoje em ti que já viesses a sentir em Moçambique? 

Já existia. Porque em Moçambique nós temos muita cultura do karaté, do Kung Fu. Antes em Moçambique tínhamos um hábito. Eu tinha o meu primo, o Paulinho, ele fazia Karaté, e o meu irmão mais velho também fazia Karaté. Então eu fui a algumas aulas, havia aquelas coisas das matracas, dos dragões, do Bruce Lee. Então havia muita essa cultura. Em Moçambique era muito forte, muito, muito forte a cultura do Karaté e do Kung Fu. Eu ia desde muito cedo com o meu irmão e com o meu primo. Só que entretanto, não sei, faltava ali alguma coisa, porque eram muitos katas, muitas coisas. Eu queria uma coisa muito mais de contacto. Por isso é que depois, quando chego a Portugal, vou para o Jiu Jitsu. Porque eu sou uma pessoa, o meu tipo de desporto é mais de contacto. E o karaté, na altura que eu estava, era muito novo, então era mais katas, aquelas coisas todas. Os meus primos, os meus irmãos já estavam no karaté mais à frente, já podiam fazer combate, já podiam fazer outras coisas mais à frente. Então eu desiludi-me um bocado e disse que não ia fazer mais. Eu queria uma coisa um pouco mais avançada. E foi aí que foi surgindo a paixão. Pelos filmes que a gente via em Moçambique, pelos meus primos. Então ficou sempre esse bichinho. Quando chego a Portugal é que eu comecei a praticar verdadeiramente, a fundo, os desportos de combate. 

E olhando agora para esta carreira, que começou há cinco anos, quais são os momentos mais marcantes para ti na tua vida nesses cinco anos? 

É muito gratificante ver a minha evolução. Entrei no boxe muito tarde, entrei no boxe aos 31 anos. Então toda a gente dizia que era impossível eu conseguir fazer alguma coisa, que já estava velho para começar. Muitas vezes digo isso, que eu sou prova viva que nunca é tarde. Eu provei isso no boxe, comecei tarde e para mim foi muito gratificante. Como já disse, o boxe foi um refúgio. Então em vez de treinar uma hora por dia, eu treinava duas de manhã, duas à tarde e uma à noite. Aquilo foi um escape. Caí de cabeça no boxe. E os frutos foram vindo. Devagarinho foram vindo. Até que tive essa explosão tão grande. E realçar que durante esses cinco anos, tivemos dois anos de confinamento. Parti o pé nesse confinamento também. Depois de partir o pé os médicos disseram: “Otávio, esse pé agora com esses parafusos todos, acho melhor não lutares”. Mas eu voltei de novo, como se fosse a Fénix renascida das cinzas. E eu estou aqui muito feliz por essa resiliência toda que eu tenho tido. E eu faço isto muito pela minha paixão, pelo boxe. E pelas pessoas também que eu sinto que eu motivo. Isso ajuda-me também, o carinho das pessoas. Ajuda-me também a continuar, porque em Portugal é tudo muito difícil. Temos que buscar forças em outras coisas que nos façam ter um pouco mais de ânimo para continuar. 

Em algum tempo, desses cinco anos, quiseste desistir? 

Várias vezes. As modalidades de combate em Portugal não são fáceis. O boxe não é sensação. E eu, tendo em conta as dificuldades de patrocínios, de treino, de tudo e mais alguma coisa, várias vezes tive vontade de desistir. Só que aquela paixão foi crescendo. E entre os problemas e a paixão, eu fui sempre escolhendo a paixão pondo os problemas de lado. Foram vindo os frutos e cada vez mais a gente foi colhendo frutos. Fomos ganhando lutas, fomos vencendo alguns títulos. Até que tivemos a oportunidade de lutar no maior palco do mundo por um título da WBA. Fico muito feliz por realmente nunca ter desistido e por nunca me terem deixado desistir. O apoio da namorada, da família é muito importante também, fizeram-me sempre acreditar. 

Quando é que achas que foi o momento que te trouxe até aqui? 

Eu acho que o momento que me trouxe até aqui foi a derrota que eu tive na Alemanha. Eu vinha de uma série de 7 vitórias seguidas. E fui lutar na Alemanha. Para mim e para toda a gente que viu, ganhei a luta, mas foi na Alemanha, a jogar fora de casa. Fomos aos pontos, e os juízes deram a vitória por pontos ao adversário. E eu, nisso saí um pouco ao Ronaldo, tenho um péssimo mau-perder. Quando perco, fico mesmo arrasado. Então, depois daquela derrota fez-me perceber que eu realmente sou capaz. Porque foi a primeira vez que eu lutei 10 assaltos. É muito exigente, são 10 assaltos de 3 minutos. Então, a derrota na Alemanha fez-me perceber que realmente é isto que eu quero. Fez-me perceber que realmente tenho potencial para isto. Fez-me perceber que não me vergaria com aquela derrota e que tinha que voltar mais forte. 


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