Depois de vários meses de discussão, meses de “espelhos de fumo” e onde devemos ter muito cuidado naquilo que acreditamos, finalmente tivemos o primeiro de três dias do NFL Draft com 32 jogadores a encontrarem o primeiro passo naquele que é o seu destino na National Football League.
Como fomos falando ao longo das últimas semanas no nosso videocast NFL Eleven, dentro do próprio NFL Draft existem dois drafts a decorrer, o dos jogadores todos e o dos quarterbacks, a peça fundamental para qualquer equipa conseguir ser bem sucedida.
Pela primeira vez na história da NFL tivemos 6 quarterbacks a serem escolhidos nas 12 primeiras escolhas do draft, e tivemos logo 3 quarterbacks nas 3 primeiras escolhas, carregando todos eles as expectativas de uma base de adeptos e das suas respectivas equipas.
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Vamos começar com Caleb Williams, estamos a falar de um jogador e de uma personalidade que desde muito cedo era visto como o “salvador”. Desde os seus tempos de futebol americano a nível de ensino secundário que ganha um grande protagonismo a nível nacional e que chega eventualmente a Oklahoma, uma universidade que há uns anos estava a trazer para a NFL os melhores quarterbacks.
Nesse sentido, Caleb Williams assentou que nem uma luva nesse mesmo programa. Em Oklahoma começa a sua carreira no banco, como suplente, mas a partir do momento que passa à frente de Spencer Rattler, quarterback também presente este ano no NFL Draft, que nunca mais perde o lugar e chega eventualmente a USC, Universidade da Califórnia, com o seu treinador Lincoln Ryley. Aí começa o lançamento para um estrelado desmedido.
Tem 2 épocas em USC onde ganhou o troféu Heisman (troféu dado ao melhor jogador de futebol americano universitário) na primeira temporada, e na segunda acaba por ter um sucesso mais pessoal do que propriamente a nível coletivo. Chega à NFL como uma das maiores estrelas, um dos maiores fenómenos destes últimos anos, podendo ser considerado o primeiro quarterback milionário antes sequer de entrar na NFL.
Fazendo uma análise ao jogo de Caleb podemos perceber imediatamente que é um jogador formidável. Fisicamente muito completo, ainda que não seja o mais alto, com uma mobilidade acima da média e um talento de braço impressionante. É capaz de fazer qualquer tipo de passe com boa colocação e tem instintos “sobrenaturais” para a posição. Muito bom a navegar o pocket e quando é obrigado a sair tem os olhos no campo, não nos adversários, tendo uma capacidade de improviso inacreditável.
Alguma displicência a nível de mecânica nas pernas pode levar a maus passes, especialmente curtos/médios e a vontade em fazer “demasiado”, ocasionalmente, pode levar a passes arriscados ou perder oportunidades fáceis. Uma das questões mais fascinantes desta análise a Caleb Williams acaba por ser a mentalidade do mesmo. Há que conseguir perceber a equipa, as expectativas, o estrelato do jogador para se conseguir tentar compreender o tipo de quarterback que poderá ser na NFL. Os Chicago Bears podem ter aqui um jogador MUITO especial.
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Saltando para a 2ª escolha do NFL Draft, Jayden Daniels, é um jogador com um dos percursos mais fascinantes em futebol americano universitário. Começa na universidade de Arizona State onde é recrutado pelo atual treinador dos Las Vegas Raiders, António Pierce, onde tem duas temporadas que a nível pessoal foram interessantes, mas a nível coletivo surgiram bastantes dificuldades.
De seguida junta-se à universidade de LSU, uma universidade com um estatuto bastante superior e com umas expectativas acima daquilo que ele estava habituado. Depois de um primeiro ano em que acabou por se ambientar não só à cultura, mas também ao esquema ofensivo, aparece para esta segunda temporada como um fenómeno inacreditável, tanto a passar, como a correr com a bola, e ganha mesmo o troféu Heisman.
Olhando agora para o jogo de Jayden Daniels, podemos primeiro verificar a ascensão brutal que tem em todos os anos em que foi jogando. A nível de tamanho tem boa altura para a posição sendo que facilmente poderia ganhar mais algum peso para lidar com a vertente física da NFL. Tem um braço muito bom capaz de fazer qualquer lançamento. Percebe muito bem o pocket que tem à sua frente mas acaba por sair muito cedo, algo que na liga lhe vai ser pedido para não o fazer.
A nível do passe curto e médio é muito seguro com uma excelente colocação de bola, sendo que na bola longa tem alguns problemas de antecipação exceto em passes mais verticais para a zona exterior do relvado.
Muito interessante quando sai do pocket, com mobilidade acima da média que o torna automaticamente num dos melhores jogadores a correr com a bola na NFL a partir do momento em que entrar no campo. Em relação à corrida vai ser pedido que seja mais inteligente na altura do contato, podendo deslizar para evitar pancadas desnecessárias. Muito bom entendimento antes da jogada do que é que a defesa adversária vai fazer e boa reação aos duelos que quer explorar para ser bem sucedido.
Carrega com ele a expectativa de levar a equipa da capital dos Estados Unidos, os Washington Commanders, a voltarem ao rumo das vitórias, algo que têm tido alguma dificuldade nos últimos anos.
Saltando para o “senhor número três”, Drake Maye, contrariamente aos outros dois quarterbacks, a ideia de sair e mudar de universidade nunca chegou perto dele.
Nascido e criado numa família com ligações à Universidade de North Carolina, o jovem quarterback fez lá toda a sua carreira universitária. Carreira essa que teve os seus momentos de protagonismo, sempre a nível individual, reconhecendo o talento do atleta, mas nunca o coletivo, onde a universidade teve sempre dificuldades a chegar à elite do futebol americano universitário.
As análises a Drake Maye são capazes de ser as mais polarizadas deste processo todo. Se de um lado temos análises que colocam Drake como o melhor jogador ou perto disso, do outro lado temos pessoas a afirmar que terá muita dificuldade em se tornar quarterback de elite na NFL.
Objetivamente, pode-se afirmar que estamos perante um talento formidável, que tem de ser trabalhado e vai precisar de tempo. Analisando o jovem jogador, rapidamente nos apercebemos do talento que tem, desde o braço direito capaz de fazer qualquer passe, até às pernas que o tornam um dos jogadores mais eletrizantes a correr com a bola.
Ainda tem de melhorar um pouco a sua capacidade de ler o campo todo, e não ficar nervoso se a primeira ou segunda leitura estiverem cobertas. A colocação da bola acaba por ser muito inconsistente, fruto de um "trabalho de pés” errático e que precisa de ser corrigido, havendo sérios problemas na sua mecânica.
Em particular, este ano, sofreu imensa pressão no pocket mas manteve-se sempre muito seguro, demonstrando resiliência e sempre que teve de improvisar mostrou vontade de atacar em profundidade, é agressivo e isso é um dom, mas ao mesmo tempo pode ser uma maldição.
Terá o duro desafio de levar a organização dos New England Patriots a esquecerem as vitórias e conquistas da era de Tom Brady, lançando assim a era de Drake Maye.
São três talentos fantásticos e depois deste NFL Draft quem ficou a ganhar foi de facto a NFL. São três atletas que vão trazer irreverência, personalidade, mediatismo e uma dinâmica que nos levará a falar durante os próximos anos de quem será o melhor…